A importância de escrever textos claros para todos
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A cultura é um direito humano e se criamos conteúdo universitário, devemos garantir que nossos textos sejam compreensíveis e acessíveis a todos.
Acessível a todos?
Todas as pessoas deveriam ter garantido o direito à educação, conforme o artigo 26.1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas não é o caso. Nem todas as pessoas têm acesso à cultura, apesar do fato de que, de acordo com os artigos 22 e 27.1 do mesmo texto, são direitos que devem ser garantidos. É evidente que precisamos lutar por um mundo mais justo e igualitário para que essas obrigações internacionais sejam cumpridas em todos os territórios e, enquanto a legislação avança, uma coisa que já podemos começar a fazer (que deveríamos ter feito há muito tempo, na verdade) é garantir o acesso de todas as pessoas aos conteúdos culturais. As universidades são lugares onde o conhecimento e a cultura são gerados e sua função, além de formar seus alunos para obterem seu eTítulo, é, como dissemos, gerar esse conhecimento por meio de pesquisas, experimentos e criações e oferecê-lo ao mundo na forma de publicações acadêmicas. Isso significa que as universidades têm um valor fundamental em qualquer sociedade para alcançar os ideais democráticos estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos como instituições geradoras de cultura, mas (Houston, temos um problema) talvez não estejam fazendo tão bem quanto deveriam.Emissor, meio, mensagem e receptor
Ao transmitir uma mensagem, é importante que levemos em consideração os elementos da comunicação. E, acima de tudo, que entendamos qual é o seu objetivo, que é fazer com que o receptor compreenda a mensagem do emissor. Vamos imaginar que estamos em uma conferência sobre as novas tecnologias que vão mudar a indústria de videogames nos próximos anos e a palestrante, que é uma verdadeira autoridade em seu campo, fala sem parar por uma hora e meia em uma língua morta. O que fazemos? Aguentamos até o fim? Levantamos e saímos? Tentamos entender o que ela está dizendo com o tradutor do Google para línguas mortas? Um texto mal redigido produz o mesmo efeito em seus leitores, mesmo que o conteúdo seja interessante e o autor seja um especialista. E, embora alguns sejam mais disciplinados e permaneçam até o final tentando decifrar o que o texto diz, a maioria se levantará e sairá. Ou pelo menos seus cérebros se distrairão repetidamente. É culpa deles, as pessoas não se esforçam mais por nada, o conhecimento exige trabalho! Alguns dirão, mas não é verdade. A culpa de os leitores não entenderem um texto mal redigido é da pessoa que o redigiu mal. Ponto.A meta da clareza
Marco Fábio Quintiliano, retórico e pedagogo do século I, dizia que A meta da clareza significa não apenas que o que dizemos possa ser entendido, mas também que não possa, de forma alguma, não ser entendido. E se eles nos dizem isso há 21 séculos, por que não entendemos? Bem, por várias razões: por replicar outros que não souberam escrever ou transmitir, por vícios adquiridos ao ler textos com uma linguagem profissional (que nem sempre é correta), por falta de interesse e, acima de tudo, por uma causa que é especialmente irritante: o ego. Nos deparamos com uma infinidade de textos acadêmicos absolutamente incompreensíveis que nos obrigam a ler e reler e até nos geram ansiedade (especialmente se vamos fazer uma prova). São textos cujo conteúdo é essencial e cuja forma é de chorar. E são assim porque são escritos por autores que decidiram que o importante era se sentar em um trono de conhecimento em vez de pensar em compartilhá-lo.E o que falha?
Nesses textos incompreensíveis, a estrutura falha, o início e o fim de uma ideia falham, a linguagem rebuscada falha ou a ausência de vírgulas e pontos que geram frases infinitas que nos matariam por falta de oxigênio se tentássemos lê-las em voz alta. E não se trata de não usar palavras complexas ou técnicas, porque o leitor pode facilmente procurá-las em um dicionário, trata-se de não escrever para parecer, mas sim para comunicar, trata-se de contar o que queremos de forma mais simples possível. Também há um erro clássico e facilmente evitável nesses textos, que é o uso de expressões anafóricas. Vamos explicar com um exemplo:- Fomos comer em um restaurante, o mesmo estava à beira da estrada e o barulho dos carros passando por ele podia ser ouvido do interior do mesmo.
- Fomos comer em um restaurante, este estava à beira da estrada e o barulho dos carros passando por ele podia ser ouvido do interior dele.
- Fomos comer em um restaurante que estava à beira da estrada e o barulho dos carros passando podia ser ouvido do interior.