Uma ferramenta importante: aprender a dizer não

Dizer que não, desagrada
Tanto quem diz como quem recebe, o "não" é uma palavra que, exceto em algumas ocasiões em que a pronunciamos com orgulho, causa certo desconforto. Culturalmente, dizer não é mal visto. De fato, até é considerado uma falta de educação em determinados contextos. Historicamente, as únicas pessoas que tinham o direito de dizer não eram aquelas que tinham poder. Quanto mais poder, mais capacidade de recusar o que quer que fosse, e vice-versa: quanto menos poder, menos capacidade de dizer não a qualquer coisa. Se pensarmos bem, a escravidão é exatamente isso: alguém tirar de nós a capacidade de dizer não e termos que cumprir todos os seus desejos. Apesar disso e de tudo o que a sociedade avançou, ainda nos ensinam que dizer não é algo pouco cordial e nos sentimos culpados por nos recusarmos quando, na realidade, temos o direito de não querer fazer sempre o que nos pedem. A armadilha que nossa mente nos coloca é que dizer sim nos traz uma série de benefícios sociais importantes, como por exemplo, nos encaixar em um grupo, agradar aos outros, passar uma imagem de proximidade, envolvimento e amabilidade, etc. É por isso que também nos é tão difícil dizer não, mas nos obrigar a sempre cumprir a vontade dos outros gera um grande desconforto interno, acumulamos tensão, prejudicamos nossa autoestima e temos sentimentos de solidão e fracasso pessoal ao sempre relegar nossos próprios interesses. Dizer não nos faz sentir egoístas ou temer que os outros nos percebam assim. Mas, na realidade, dizê-lo quando apropriado nos faz saber estabelecer limites, nos respeitar e fazer com que os outros nos percebam como pessoas seguras e confiáveis. Dito isso, como nos ensinaram a agradar e a dizer sim a tudo, devemos desaprender algumas coisas para melhorar nossa assertividade e poder dizer não sem remorsos.Esclarecimento
Antes de começar com as dicas para aprender a dizer não, é importante destacar algumas coisas:- Saber estabelecer limites é importante, mas saber ser solidário e querer ajudar os outros também é.
- Se pensarmos apenas em nós mesmos e em nossos próprios interesses, teremos estabelecido limites enormes, mas aos quais ninguém vai querer se aproximar.
- Vivemos em sociedade e os valores pró-sociais são muito necessários. As mensagens individualistas, por outro lado, estão tão arraigadas que nos esquecemos de que nós e nossas circunstâncias não são o centro do mundo.
- Saber dizer não é muito importante para nossa autoestima, mas dizer sim ou saber se sacrificar pelos outros em determinadas situações também é.
- Uma boa saúde mental e bons relacionamentos familiares e sociais precisam de ambas as coisas: saber quando dizer não e quando dizer sim.
«Diga o que disser... os outros»
Ou algo assim cantava um senhor que nossos avós gostavam muito chamado Raphael. A questão é que a opinião dos outros é mutável, não muito importante e não temos tanto controle sobre ela quanto pensamos. Na realidade, a menos que seja a opinião de uma pessoa muito querida, o que os outros pensam deve nos importar muito pouco. Portanto, se formos capazes de não levar tão a sério o que os outros pensam, já teremos ganhado muito. Dizer não quando a opinião dos outros só nos importa na medida certa, não terá esse componente de culpa e será muito mais fácil para nós.Usar métodos de comunicação assertiva
- A forma básica:
—Obrigado pelo convite, mas hoje não estou com vontade.
- A técnica do sanduíche, em que a negativa é inserida entre duas mensagens positivas ou empáticas:
—Sinto muito que você esteja tão ocupado com o trabalho, mas eu não posso ajudar porque tenho que estudar para o exame da escola de idiomas para poder me formar e obter o eTítulo. Talvez outro colega possa te ajudar, pergunte no grupo de estudos do WhatsApp para ver se tem sorte.
- Usamos a técnica do disco arranhado para pessoas muito insistentes:
—Esta noite vamos a uma festa na casa da Maria.
—Eu não posso, amanhã tenho que estudar o dia todo e quero dormir cedo.
—Você não pode faltar, você vai.
—Muito obrigado pelo convite, mas eu realmente tenho que estudar o dia todo e quero dormir cedo.
—Vem, não seja assim!
—Não, realmente, amanhã tenho que estudar o dia todo e quero dormir cedo, haverá outras festas, mas a esta não vou.
- Técnica do acordo:
—Você vem ao cinema esta tarde?
—Hoje eu quero ficar em casa, mas obrigado por me avisar.
—Vem, por favor, os outros vão em casal e vai ser estranho.
—Desculpe, mas realmente não tenho vontade de ir ao cinema hoje, mas se quiser, podemos ir juntas na próxima quarta-feira.
- Técnica do adiamento: essa técnica é muito boa quando nos colocam em uma situação comprometedora que não queremos cumprir, mas não sabemos como recusar ou quando nossos chefes ou professores nos pedem para assumir alguma responsabilidade extra. Serve para não dizer um sim imediato e depois nos sentirmos mal:
—Você pode, por favor, se encarregar de coordenar os grupos de trabalho?
—Agora mesmo tenho muito trabalho, mas deixe-me consultar a agenda e me organizar e amanhã te dou uma resposta.
E, é claro, é preciso dar uma resposta. Existem muitas outras técnicas de comunicação assertiva que nos ajudam em nossos relacionamentos interpessoais e são muito úteis para aprender a dizer não. Se no início nos custa usá-las, não devemos nos preocupar; felizmente, a vida nos dará muitas oportunidades para aperfeiçoar nossa técnica de negar quase qualquer coisa.